Professora Elizabete Tamanini na revista História e-história

Recentemente a professora Dra. Elizatbete Tamanini, do mestrado da Uniplac, esteve em Campinas-SP proferindo palestra na Unicamp. Na ocasião, ela foi entrevistada por Glória Tega, para a revista História e-história, daquela instituição. Confira abaixo: \"Museu é lugar de vida e não de morte\" por Glória Tega Professora Elizabete em recente aula ministrada na Unicamp. Foto de Glória Tega Além dos mais de doze anos de experiência em Museus, Elizabete Tamanini também realizou estágios e visitas técnicas em Instituições Brasileiras e Internacionais, atua na formulação das Políticas Nacionais de Museus para o Ministério da Cultura/ Bases para a Política Nacional de Museus e contribui para a criação do Sistema Estadual de Museus em 2006. Atualmente é Professora Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Educação da Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC - Lages /SC. É Vice-coordenadora deste Mestrado e coordena a Linha de Pesquisa Educação, Processos Sócio-Culturais e Sustentabilidade. Elizabete Tamanini é graduada em História pela Universidade da região de Joinville, mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e doutora em Educação na Área de Educação, Cultura e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas. 1)O que é um \"bom\" museu? Um bom museu ou um museu bom deve representar a memória, a identidade e a cultura da comunidade onde ele está inserido. Deve produzir diálogos entre saberes e fazeres do passado e do presente. Deve promover rupturas e contribuir com a educação entendida numa dimensão humanista. 2) Como se pode tornar um museu atrativo ao grande público? Os museus da atualidade devem buscar a qualificação nas diferentes dimensões institucionais. Como instituição comunicadora, o museu deverá construir projetos e ações que mobilizem a sociedade de um modo geral. Para tanto, é necessário convergir para Projetos e Programas multidisciplinares envolvendo muitos profissionais para a execução de seu Projeto. Museu é lugar de vida, não de morte. 3) O museu hoje tem um papel importante na educação? A Instituição museológica é resultado de um processo histórico, político e social. Ao longo dos séculos os museus vêem passando por inúmeras mudanças. Atualmente tem-se como paradigma que uma das funções mais importante de um museu é a educativa. Estando aberto ou fechado ele comunica, portanto é uma instituição que produz informações, constrói valores e ideologias e a educação como área de conhecimento entraria como ferramenta produtora de diálogos dos saberes e fazeres herdados, acumulados e ressignificados pela sociedade. 4) Como o museu pode ajudar na divulgação científica? Já é de conhecimento público que a instituição museológica, não é mero depósito de coisas velhas. Esta instituição é responsável pela conservação, preservação e divulgação do patrimônio herdado socialmente. Assim, a Pesquisa científica é a base fundamental para a construção de conhecimentos a partir dos acervos que os museus possuem ou escolhem como tema gerador de sua função social. Os programas de Educação em museus podem estimular e contribuir ainda mais para a aproximação da comunidade com esta instituição, desmistificando este ambiente. 5)O que é o Sistema Estadual de Museus? O Ministério da Cultura/MinC a partir das políticas nacionais para Museus vem possibilitando a criação de Fóruns, conselhos de modo a organizar sistematicamente estas instituições. O Sistema Estadual de Museus procura organizar e definir políticas públicas que venham ao encontro das diferentes realidades e necessidades dos Museus nos Estados. Dessa forma, passa-se a atuar de forma organizada, seguindo parâmetros e pressupostos comuns. 6) O que é patrimônio? A palavra tem diferentes sentidos, mas o que mais significamos é que o uso deste conceito é muito recente na história da preservação e conservação. A partir da revolução francesa estas questões da publicização da herança, da memória e do patrimônio adquiriram um sentido de direito coletivo, ou de luta para ser de direito coletivo comunitário. Patrimônio vem de algo que herdamos, paterno, familiar. O caráter da reflexão neste momento caminha para o sentido e o pertencimento do patrimônio herdado. O que se preservou, o que se escolheu para se preservar quase sempre foi o patrimônio das elites. Então, o que se deseja hoje é que decidamos coletivamente o que queremos e o que devemos preservar como patrimônio. Não são os técnicos e cientistas que detém condições estruturais que decidirão, tampouco os museus terão autonomia para escolherem e decidirem, mas sim o conjunto das representações sociais que decidirão a respeito das memórias, das identidades que podem significar o patrimônio social a ser conservado e preservado. 7) Fale um pouco da sua experiência sobre a educação patrimonial no ensino formal. O que levou à elaboração desse projeto? Quais foram as ações práticas? Qual foi o resultado? Minha trajetória em museus se deu na construção de Projetos educativos para o atendimento de diferentes públicos, mas, de modo substancial, a público escolar, público relacionado ao ensino formal. Comecei na década de oitenta pensando projetos que tivessem suporte teórico da educação enquanto área de conhecimento, todavia tendo que problematizar objetos que não faziam parte do mundo formal da Escola - Museu -Arqueologia e preservação. A partir das experiências vivenciadas e de aprofundamentos teóricos, avaliamos que deveríamos criar uma linguagem educativa singular pelo Museu, algo que representasse um campo da educação, mas que não possuísse os arranjos metodológicos construídos pela educação formal. Até porque o museu atua com educação, mas não pertence à categoria do ensino formal, tampouco pode se transformar em um laboratório da escola.Nossa intenção inspirada na pedagogia de Paulo Freire e nos princípios da Educação patrimonial foi nos provocar enquanto instituição secular carregada de estereótipos e modelos e ao mesmo tempo provocar o ensino formal para a construção de novos diálogos entre o que se ensinava na Escola e o que se podia aprofundar e interagir com um trabalho sistematizado entre estas instituições - Museu e Escola. Foi assim que criamos programas de educação no museu onde a problemática residia na formação de professores, formação de público e participação comunitária. O que se pode avaliar nestes quase 20 anos é que houve um avanço qualitativo para ambas instituições e a criação de programas e políticas públicas que estão nas pautas atuais dos diferentes setores da cultura e educação também são resultados já dessas experiências trilhadas e construídas em muitas situações \"a contrapelo da história\" como diz Walter Benjamim. 8) Qual é a sua opinião sobre o papel do ensino formal na educação patrimonial? A Educação para o patrimônio e com o patrimônio deveria ser um tema gerador da Escola. A Escola trabalha essencialmente com memórias, saberes, identidades, patrimônios herdados, acúmulos sociais representados fortemente pelos conhecimentos repassados em seus conteúdos programáticos. Tematizar e problematizar estas questões significando-as e ressignificando-as em sua interface com o presente é um dos princípios filosóficos da educação Freiriana e da educação patrimonial. Muitas escolas brasileiras vêem realizando um trabalho valioso nesse sentido. 9) Como \"ensinar\" a sociedade a valorizar seu patrimônio? Paulo Freire fala que a educação deve gerar um processo dialógico entre os sujeitos que ensinam e entre os sujeitos que aprendem. Assim, a valorização do patrimônio só será compreendida e assumida socialmente quando construirmos com mais intensidade relações democratizadoras nas nossas instituições culturais e educativas. A medida que a sociedade tiver espaço de formação, participação ela saberá optar e decidir sobre o significado de preservar a sua memória, a sua identidade a sua história. 10) Qual a atual situação brasileira quanto às políticas de Preservação do Patrimônio? Fale um pouco de como isso funciona nos países que você tem conhecimento. Pode se afirmar que avançamos qualitativamente na definição de políticas públicas de preservação nestes últimos tempos. A criação do Sistema Nacional de Museus, a instalação de Fóruns, sistemas estaduais e redes municipais em muito têm contribuído para o debate em torno desta problemática. Projeto interessante que preconizam a interatividade da sociedade, ele tem acontecido em diferentes regiões do Brasil. Porém, precisamos avançar na formação dos profissionais que atuam nestas áreas especialmente nos museus. Há ainda grandes vácuos no investimento da qualificação estrutural dos museus. Temos muitos museus que são somente depósitos de coisas velhas. E para esses novos tempos, não se pode mais admitir tamanha disparidade entre um conceito de instituição que preserva, pesquisa, comunica e divulga, para um conceito de \"depósito\". Nas experiências que tivemos fora do Brasil, as construções evidentemente são diferentes. Países com Espanha e Portugal possuem há décadas políticas públicas definidas para o patrimônio e com recursos financeiros permanentes. Por outro lado, o sentido filosófico da preservação passa pelos debates e conflitos que \"nosotros\" vivemos. Vêm se realizado ao longo dos anos debates e fóruns nacionais e internacionais que tem levado a construção de parcerias e ações que transcendem países, territórios e regiões e ao meu ver isto significa um grande passo para a democratização dos patrimoniais sociais construídos pela humanidade. Foto: Glória Tega.
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